Manari (20 e 21 de Novembro)
Novembro 22, 2008
Acordamos às 6 para tomar um ótimo cafe da manhã. No caminho para Manari ligamos o radio para nos distrair com as noticias matinais: Ele pegou a faca, esfaqueou o braço da vítimavitama, esfaqueou o peito da vitima, esfaqueou o pescoço da vitima, degolou a cabeça de vitima. O delegado ou delegada Darcir Não sei das quantas encontrou o corpo na noite do dia seguinte! A cabeça estava do lado do corpo… e o radio chchchchchch, já era também… Graças a deus! Até Manari a estrada estava boa, e quando chegamos fomos direto a prefeitura, que é o primeiro prédio da cidade. Após algumas conversas nos apresentaram ao Ricardo, professor e funcionario do conselho tutelar, que foi o nosso guia nos próximos dois dias.
Nosso primeiro tema de abordagem foi a feira, que estava acontecendo no centro da cidade e deixando os sitios (povoados) vazios. Ali encontramos o inusitado vendedor de remédios para prostata e outras mazelas com produtos naturais. Para atrair consumidores, ele tinha um casal de cobras e um megafone. Ele literalmente fazia a cobra subir! Um exemplo do cara que dá o seu jeito para ganhar a vida no meio de tanta adiversidade.
Ao conversar com Fabiana do conselho tutelar, descobrimos que a prostituição infantil é um grande problema do município. Fomos a uma casa onde pelo menos 4 garotas entre 7 a 10 anos tinham sido abusadas e elas deixavam em troca de balas, pipocas ou um trocado. Foi uma conversa muito forte e dificil. Mas elas nos contaram com alegria o sonho de ter uma bicicleta e sairem dessa situação. Foi muito bonito ver o sorriso no rosto dessas garotas.
Seguimos então para o sitio Queimadas. No entanto as condições da estrada não aparentavam ser as mais apropriadas, por isso mudamos o roteiro para o Pé da Serra. Após um mini rali sertanejo, tivemos que abandonar nosso moderno veiculo com ar condicionado para seguirmos no agradavel carro de boi. No Pé da Serra encontramos familias que vivem em condições de extrema necessidade: falta água, terra, escola (professores não vem HA dois meses), e a péssima estrada dificulta qualquer contato com, o não muito distante, meio urbano. Foi um desafio arrancar um sorriso do rosto dessas pessoas. Impressionante ver como a vida sofrida dessas pessoas as fizeram aparentar pelo menos 15 anos a mais que a propria idade. Já escuro, partimos pela mata para reencontrar nosso carro e voltar para Garanhuns.
Logo cedo do dia 21, encontramos Ricardo na casa paroquial onde ele prepara a festa da padroeira.Antes de partirmos para a area rural do municipio fomos informados que em Manari existe muita plantação de maconha de pequenos agricultores. Queríamos saber mais dessa realidade, mas os riscos para nós e para nossos contatos eram muito grandes. Decidimos manter nosso plano original e seguir para Sitio das Baixas, conhecido e estigmatizado como o lugar mais pobre da região. No caminho que nos levou pelo sertão mais duro e seco, atolamos uma vez mas seguimos em frente.
Como já tinhamos entrado em contato com uma liderança do local, a comunidade tinha se reunido para nos encontrar pela manhã. Casas de taipa, muita criança, vegetação tipica da catinga e imagens religiosas compunham o cenário do local.
Umas 20 pessoas participatram da atividade em grupo que identificou como principal proposta a união para conseguir casas e água. Em seguida entrevistamos alguns personagens: uma parteira que amava o seu plantio na serra; o morador mais antigo que queria uma associação para lutar pelos seus direitos; um pai de uma garota com necessidades especiais que achava que tinha que amar essa filha mais que as outras por deus tê-la feito diferente; uma professora que ama suas galinhas e cebolas. O lugar se mostrou o brasil em sua maior essencia. Podiamos nos remeter a musica Procissão do Gil: “Eles vivem penando aqui na terra, esperando o que Jesus prometeu…”
Almoço não podia ser mais tipico: Bode assado e feijoada! Para terminar o dia entrevistamos uma representante da Natura em Cercadinho, que fica no caminho de Pé de Serra. O depoimento dela teve um tom bastante sentimental, propondo mais amor para esse brasil. Nos despedimos do agora amigo Ricardo com uma promessa: ele ficou de produzir repentes e cordel com a criançada da escola municipal com a pergunta: O que tem que mudar no brasil para a sua vida dar uma melhorada.